segunda-feira, 7 de outubro de 2013

As aventuras de negão...
Por: Priscila Gorzoni*

Esse texto é dedicado a todos os animais que vivem nas nossas ruas, vagando e tentando sobreviver nessa selva de pedra.

Se ver um animal abandonado dê assistência...seja humano.




“A grandeza de uma nação pode ser julgada pela forma que seus animais são tratados”
                                                                                                                        GANDHI

            Mudei o meu trajeto diário até o trabalho só para ver o Negão, uma mistura de pequinês e sem raça definida. Eu estava preocupada com Negão, imaginava que ele podia ser mais um cachorro de rua. Por sorte, descobri que não era.
A primeira vez que o vi, ele sacolejava o pequeno corpo peludo pela Rua. Oswaldo Cruz, entre um carro e outro. Fiquei preocupada, mas Negão já estava longe, não dava tempo de alcançá-lo, atravessando entre um carro e outro e por sorte, todos esperando o pequeno cãozinho atravessar a rua.
Negão, como todos os cachorros, é de uma inteligência fora do comum. Inteligência que ainda tira o sono de vários pesquisadores especializados no assunto. Eu nunca duvidei da inteligência dos animais.
            Já faz mais de sete meses que acompanho Negão, fui em uma destas minhas observações que descobri Negão tem morada e dono. Quem cuida dele são os funcionários do estacionamento que fica na Avenida Amazonas. Ele é bem cuidado, gordinho e pelo seu andar, já tem certa idade.
            Um dia, voltando de uma palestra às 21 horas o vi perambulando pelos arredores do jardim. Ele ia longe, andar lento, balançado, feliz. Caia uma chuvinha fina e fria e Negão parecia não se importar com o tempo, o frio e a chuvinha. Quando vi ele sumiu na esquina, é provável que tenha voltado para a sua morada.
            Preocupada perguntei para um guarda sobre o cachorrinho. Ele disse que o cachorro era do dono do estacionamento e que todos os moradores ajudavam a cuidar dele. Fiquei mais aliviada. Alguns dias depois fiz contato com o pessoal da Associação Protetora dos Animais de São Caetano e eles me informaram que Negão era do estacionamento e fazia visitas frequentes ao veterinário.
            Ele me pareceu bem, apesar dos pelos emaranhados.
            Nunca vi o Negão bravo, só uma vez, ele latia bravo para um bêbado que passava na sua calçada. Neste dia Negão mostrou os pequenos dentinhos e avançou aos brandos sobre o invasor.
            Em outra manhã, ele voltava de seu passeio matinal, em passos lentos e parou exatamente ao meu lado para atravessar a Avenida Amazonas. Eu olhei para ele decidida a atravessá-lo. Ele me olhou, parecia me conhecer e então eu o chamei:
-Vem, vem!
            Ele me olhou um pouco desconfiado, uma desconfiança que considerei importante para os animais, já que infelizmente, os seres humanos não são tão confiáveis.
            Hoje novamente mudei o meu trajeto, mas não vi Negão...ele devia estar fazendo o seu passeio matinal.....
Mas uma coisa é certa, o dia que vejo Negão, é um dia mais feliz, muito mais feliz.

*É jornalista e pesquisadora formada pela Universidade Metodista, em ciências sociais pela USP e Direito pela Universidade Mackenzie, tem pós graduação latu senso em Fundamentos e Artes pelo Instituto de Artes da UNESP de São Paulo e atualmente faz mestrado em história, com um projeto de antropologia histórica pela PUC de São Paulo. Como jornalista escreve para as revistas National Geographic Brasil da editora abril, História em Curso da editora minuano.



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