O
assustador homem da capa preta
Hoje é comum
sairmos a noite nas ruas e cumprirmos os nossos compromissos, mas nas décadas
de 1920 e 30, a maioria das mulheres e crianças tinham medo de sair.
Tudo porque
existia uma lenda famosa na cidade de que as mulheres e crianças que andassem
pelas ruas eram perseguidas pelo Homem da Capa Preta.
Essa figura
famosa e assustadora é descrita como um homem alto, rosto magro, que vagava
pelas ruas altas horas da madrugada usando uma longa capa preta. Daí ele passou
a ser conhecido como o Homem da Capa Preta.
As mulheres
mais antigas contam que a função do Homem da Capa Preta era fazer com que as
mulheres e as crianças ficassem em casa a noite e obedecessem seus pais. Tanto
que citar o Homem da Capa Preta era como chamar o Homem do Saco, outra famosa
assombração que obrigada as crianças a obedecerem seus pais.
Mas não se
enganem os que adoram esses relatos folclóricos, segundo depoimentos da época,
na década de 1930 e 40, essa figura nada tinha de sobrenatural, muito pelo
contrário. Ele o Juiz de Paz João Rela (1) que adorava mostrar como era
respeitado, vestindo uma Capa Preta que lhe caia abaixo dos joelhos.
Relato mais
contundente dessa figura aparece quando Elvira e Olívia Buso sairam para fazer
compras no açougue dos Lorenzini, na Rua Rio Branco, quando já escurecia.
Atemorizadas pela escuridão da época, elas já saíram sugestionadas pelo temor da perseguição do Homem da Capa
Preta. Ora, isso foi dito e feito! Pois, quando
já estavam retornando, deram-se conta de que
estavam sendo seguidas por um vulto de Capa Preta. Então puseram-se a correram, muito assustadas. (2).
José de Souza
Martins faz uma análise interessante sobre esse personagem curioso que surge
exatamente na época de repressão policial junto aos operários comunistas.
Ademir Médici
em Migração e Urbanização: a presença de
São Caetano na região do ABC, dedica um pequeno espaço ao personagem. Ele
conta que João Rela levou para o túmulo a fama de ser o Homem da Capa Preta.
Todos sabiam que ele era o personagem enigmático. No entanto, nunca um
inquérito foi aberto e nem uma prova mais concreta foi apresentada. Mas, ficou
a versão, assumida por ele próprio, com muito humor, entendida pelos amigos e
familiares, colocada, vez ou outra, pela imprensa semanal.
O homem da
Capa Preta simbolizava não só uma lenda, mas o rigor disciplinar dos costumes
da época, quando raras mulheres e crianças se permitiam sair às ruas altas
horas da noite. Portanto, não é à toa que eram as donzelas as mais assustadas
com o Capa Preta. Provavelmente usar capa preta na época era coisa rara e com
certeza muitos nunca haviam visto uma, fora isso, a negra escuridão, fazia o
resto.
BOX: “O vereador Sr. Rela talvez
em 3 de janeiro realize a sua esperada conferência em ´si bemol`, conforme
prometeu ao povo de São Caetano em 1930, sob o tema O homem da capa preta. S.S.
está decorando a primeira e única lauda de sua formidável peça oratória, não
querendo imitar seus colegas de bancada: ler discursos. Diz o sr. Rela que não
é papagaio”. C.f. O São Bernardo, coluna factos e boatos, domingo, 13 de junho
de 1937. Fonte: Médici, Ademir: Migração e Urbanização: Presença de São Caetano
do Sul na região do ABC, Editora Hucitec, São Caetano do Sul, 1993.
BOX: Quem foi ele?
João Rela
nasceu em Itatiba, SP, em 16 de setembro de 1889, filho de Giácomo e Antonieta
Rela. Veio para o ABC na década de 1910. Foi chefe da Estação ferroviária, em
Campo Grande e, em 1917, mudou-se para São Caetano, como chefe da Estação
local, na ferrovia SPR. Aqui João Rela montou a primeira padaria do Monte
Alegre, em 1928. Ele teve também seu escritório de despachante. Foi vereador e
Juiz de Paz. Ele também escrevia poemas e contos. Faleceu no dia 3 de junho de
1970, aos 81 anos.
Fonte: O livro das curiosidades de São Caetano do Sul, Priscila Gorzoni
Fonte: O livro das curiosidades de São Caetano do Sul, Priscila Gorzoni
(ESSE TEXTO NÃO PODE SER COPIADO SEM OS DEVIDOS CRÉDITOS DE AUTORIA, CONFORME A LEGISLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS LEI 9610, de 19 de fevereiro de 1998, "Dos Direitos Morais do Autor", Artigo 24, Inciso II. POR FAVOR, NÃO COPIEM, COMPARTILHEM O LINK. OBRIGADA)
Para saber mais: http://promemoriasaocaetano.blogspot.com.br/
Referências Bibliográficas:
CASCUDO, Luis Câmara. Dicionário
do folclore brasileiro. São Paulo: ed. Global, 2002.
________.
Geografia dos mitos brasileiros. São Paulo: ed. Global, 2002.
________.
Locuções tradicionais no Brasil. São Paulo: Global, 2002.
MÉDICI, Ademir: Migração e Urbanização: Presença de São
Caetano do Sul na região do ABC, Editora Hucitec, São Caetano do Sul, 1993.
*É jornalista,
pesquisadora, historiadora. Formada em jornalismo pela Universidade Metodista,
com formação em ciências sociais pela USP e Direito pelo Mackenzie, tem
especialização em Fundamentos e Artes pelo Instituto de Artes da UNESP de São
Paulo e Mestre em história pela PUC de São Paulo. É autora do livro Abre as
portas para os Santos Reis da Editora Fundação Pró-Memória, Animais nas
Batalhas pela editora Matrix e Os benzedores que benzem com as mãos da editora
UCG.
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