Suzana Kleeb, Historiadora, Museóloga e Doutoranda em Planejamento e Gestão do Território pela Universidade Federal do ABC.
Por: Priscila Gorzoni
Priscila Gorzoni: Desde quando faz a pesquisa?
Suzana Kleeb: Faço
pesquisa desde 1990. Até 2013 o foco estava na história, memória e
patrimônio cultural de Santo André e região do ABC. Atualmente além
dessa área, agreguei recentemente pesquisa em regiões interioranas de
São Paulo e Bahia, com destaque para as relações entre sociabilidade e
desenvolvimento em territórios interioranos.
Priscila Gorzoni: Porque iniciou a pesquisa deste tema?
Suzana Kleeb: Os
temas associados a região do ABC e Santo André se iniciaram no momento
em que fui desenvolver estágio no Museu de Santo André Dr. Octaviano
Armando Gaiarsa e a partir de então me encantei com o tema regional. Os
temas associados à sociabilidade em territórios interioranos é mais
recente, com o doutorado em curso.
Priscila Gorzoni: Como foi o inicio? Conte as dificuldades, surpresas e realizações.
Suzana Kleeb: O início de toda a atuação na área de pesquisa tem algo muito gostoso que
é de enfrentar um assunto novo e desafiante. As dificuldades são
inerentes a qualquer pesquisa: procurar fontes, conhecer pesquisas já
realizadas etc. As surpresas em especial quando se estuda um tema que
àquela época era pouco estudado. Hoje há muitos estudos sobre história
regional. Naquele época (começo da década de 1990) o estudo regional não
era muito difundido.
Priscila Gorzoni: Como executa a pesquisa? Conte um passo a passo
Suzana Kleeb: Depende
um pouco do tema. Como exemplo, uma pesquisa que se desenvolveu
em setembro de 2013 e focalizou a área central de Santo André. Nesta,
buscou-se entender a interação da paisagem com as pressões associadas às
dinâmicas do território, observado durante um século - 1911 a 2011- e a
partir das relações com a sociedade. Procurou-se observar como a
transformação da paisagem é percebida por escritores e fotógrafos que
registraram a área central de Santo André.
Para esta pesquisa desenvolvi:
1. revisão bibliográfica sobre o tema,
2. levantei fontes primárias - documentos, fotografias e textos literários - que se dedicaram ao assunto,
3. consolidei todas as informações em quadros síntese,
4. criei mapas temáticos,
5. apresentei os resultados e as reflexões advindas desse material.
Priscila Gorzoni: Que metodologias usa para fazer essa pesquisa?
Suzana Kleeb: Depende
do tipo de pesquisa. Posso me utilizar de pesquisas junto a fontes
bibliográficas, documentais, orais...Posso realizar pesquisas de campo,
organizar e analisar entrevistas, coletar informações etc., produzir
textos analíticos e mapas temáticos. Tudo vai depender do tema e da
extensão da pesquisa.
Priscila Gorzoni: Em que região ou regiões se concentram mais a sua pesquisa?
Suzana Kleeb: Minha
pesquisa se concentrou até o ano de 2013 na região do ABC e em especial
em Santo André. Hoje em dia analiso territórios interioranos e não
metropolitanos da Bahia e de São Paulo.
Priscila Gorzoni: Quais descobertas fez nas regiões por meio desta pesquisa? Detalhar.
Suzana Kleeb: Inúmeras.
Desde compreender melhor as características geomorfológicas de nossa
região, suas relações com as estruturais sociais, ambientais, econômicas
epolíticas do ABC com o Estado de São Paulo e Brasil; bem como
compreender as histórias e memórias de suas gentes; fundamentais,
aliás!
Priscila Gorzoni: Conte algumas descobertas que fez sobre São Caetano?
Suzana Kleeb: Não
faço pesquisas específicas sobre São Caetano do Sul. Mas, pessoalmente
compreendi as relações da metrópole São Paulo com a vizinha cidade de
São Caetano do Sul e como essas características impactam na realidade do
ABC.
Priscila Gorzoni: Como é possível compreender uma cidade, sua geografia, história e cultura por meio de sua pesquisa? Expliquei como
Suzana Kleeb: A cidade é composta por diversos elementos que a compõe. Sua história,
sua geografia, seus traços urbanos, econômicos e sociais. Mas, acima de
tudo como nos disse Marc Bloch,
"...O objeto da
história é por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens. Mais do que
singular, favorável à abstração, o plural, que é o modo gramatical da
relatividade, convém a uma ciência da diversidade. Por trás dos grandes
vestígios sensíveis da paisagem, [os artefatos ou as máquinas], por trás
dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições
aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são os homens que
a história quer capturar." Ofício do Historiador, p.54.
Quais dificuldades encontrou na pesquisa em São Caetano do Sul?
Como
já lhe disse anteriormente, não desenvolvo pesquisas específicas
sobre São Caetano do Sul. Mas, acredito que as dificuldades devam ser
semelhantes: fontes nem sempre acessíveis, organizadas e conservadas com
vistas a preservar a possibilidade de se realizar pesquisas nos
diversos âmbitos do conhecimento. E isso não quer dizer que as
instituições de memória não as conservam. Antes, observamos que
geralmente as políticas culturais de conservação e difusão de documentos
é frágil e pouco voltada para a manutenção da memória, o que dificulta
sobremaneira a vida dos pesquisadores. E, por conseguinte, o
entendimento das realidades locais e regional.
Priscila Gorzoni: Para quem deseja se iniciar nesta pesquisa o que indicaria?
Suzana Kleeb: Indicaria
que é preciso acima de tudo gostar de difusão de conhecimentos. Pode
parecer básico e óbvio, mas apenas o prazer em realizar pesquisas é que
auxilia a que o pesquisador não desista ao primeiro desafio que
encontra. Depois é preciso persistência e muito estudo; muita leitura
não apenas sobre o seu assunto, mas sobre temas correlatos e aportes
teóricos que embasam suas reflexões. Quando esses elementos são levados
em consideração, pesquisas se tornam deliciosas e fascinantes.
Priscila Gorzoni: Suas conclusões finais.
Suzana Kleeb: Para finalizar gostaria de dizer que apesar de vivermos em uma sociedade que valoriza pouco a pesquisa e o conhecimento, sabemos que estes são básicos e fundamentais. É preciso que a sociedade e as políticas públicas estejam mais antenadas à importância de se conhecer, analisar limitações e possibilidades de avanços da sociedade, além de fomentar a inovação que pesquisas possibilitam e garantir acesso ao conhecimento produzido.
Suzana Kleeb: Para finalizar gostaria de dizer que apesar de vivermos em uma sociedade que valoriza pouco a pesquisa e o conhecimento, sabemos que estes são básicos e fundamentais. É preciso que a sociedade e as políticas públicas estejam mais antenadas à importância de se conhecer, analisar limitações e possibilidades de avanços da sociedade, além de fomentar a inovação que pesquisas possibilitam e garantir acesso ao conhecimento produzido.
(ESSE
TEXTO NÃO PODE SER COPIADO SEM OS DEVIDOS CRÉDITOS DE AUTORIA, CONFORME
A LEGISLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS LEI 9610, de 19 de fevereiro de 1998,
"Dos Direitos Morais do Autor", Artigo 24, Inciso II. POR FAVOR, NÃO COPIEM, COMPARTILHEM O LINK. OBRIGADA)
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