terça-feira, 19 de julho de 2016

Série Os pesquisadores do ABCD
Suzana Kleeb, Historiadora, Museóloga e Doutoranda em Planejamento e Gestão do Território pela Universidade Federal do ABC.
Por: Priscila Gorzoni




Priscila Gorzoni: Desde quando faz a pesquisa?

Suzana Kleeb: Faço pesquisa desde 1990. Até 2013 o foco estava na história, memória e patrimônio cultural de Santo André e região do ABC. Atualmente além dessa área, agreguei recentemente pesquisa em regiões interioranas de São Paulo e Bahia, com destaque para as relações entre sociabilidade e desenvolvimento em territórios interioranos.

Priscila Gorzoni: Porque iniciou a pesquisa deste tema?

Suzana Kleeb: Os temas associados a região do ABC e Santo André se iniciaram no momento  em que fui desenvolver estágio no Museu de Santo André Dr. Octaviano Armando Gaiarsa e a partir de então me encantei com o tema regional. Os temas associados à sociabilidade em territórios interioranos é mais recente, com o doutorado em curso.

Priscila Gorzoni: Como foi o inicio? Conte as dificuldades, surpresas e realizações.

Suzana Kleeb: O início de toda a atuação na área de pesquisa tem algo muito gostoso que é de enfrentar um assunto novo e desafiante. As dificuldades são inerentes a qualquer pesquisa: procurar fontes, conhecer pesquisas já realizadas etc. As surpresas  em especial quando se estuda um tema que àquela época era pouco estudado. Hoje há muitos estudos sobre história regional. Naquele época (começo da década de 1990) o estudo regional não era muito difundido.

Priscila Gorzoni: Como executa a pesquisa? Conte um passo a passo

Suzana Kleeb: Depende um pouco do tema. Como exemplo, uma pesquisa que se desenvolveu em setembro de 2013 e focalizou a área central de Santo André. Nesta, buscou-se entender a interação da paisagem com as pressões associadas às dinâmicas do território, observado durante um século - 1911 a 2011- e a partir das relações com a sociedade. Procurou-se observar como a transformação da paisagem é percebida por escritores e fotógrafos que registraram a área central de Santo André.

Para esta pesquisa desenvolvi:

1. revisão bibliográfica sobre o tema,

2. levantei fontes primárias - documentos, fotografias e textos literários - que se dedicaram ao assunto, 

3. consolidei todas as informações em quadros síntese,

4. criei mapas temáticos,

5. apresentei os resultados e as reflexões advindas desse material.

Priscila Gorzoni: Que metodologias usa para fazer essa pesquisa?

Suzana Kleeb: Depende do tipo de pesquisa. Posso me utilizar de pesquisas junto a fontes bibliográficas, documentais, orais...Posso realizar pesquisas de campo, organizar e analisar entrevistas, coletar informações etc., produzir textos analíticos e mapas temáticos. Tudo vai depender do tema e da extensão da pesquisa.

Priscila Gorzoni: Em que região ou regiões se concentram mais a sua pesquisa?

Suzana Kleeb: Minha pesquisa se concentrou até o ano de 2013 na região do ABC e em especial em Santo André. Hoje em dia analiso territórios interioranos e não metropolitanos da Bahia e de São Paulo. 

Priscila Gorzoni: Quais descobertas fez nas regiões por meio desta pesquisa? Detalhar.

Suzana Kleeb: Inúmeras. Desde compreender melhor as características geomorfológicas de nossa região, suas relações com as estruturais sociais, ambientais, econômicas  epolíticas do ABC com o Estado de São Paulo e Brasil; bem como compreender as histórias e memórias de suas gentes; fundamentais, aliás! 

Priscila Gorzoni: Conte algumas descobertas que fez sobre São Caetano?

Suzana Kleeb: Não faço pesquisas específicas sobre São Caetano do Sul. Mas, pessoalmente compreendi as relações da metrópole São Paulo com a vizinha cidade de São Caetano do Sul e como essas características impactam na realidade do ABC.

Priscila Gorzoni: Como é possível compreender uma cidade, sua geografia, história e cultura por meio de sua pesquisa? Expliquei como
Suzana Kleeb: A cidade é composta por diversos elementos que a compõe. Sua história, sua geografia, seus traços urbanos, econômicos e sociais. Mas, acima de tudo como nos disse Marc Bloch,
"...O objeto da história é por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens. Mais do que singular, favorável à abstração, o plural, que é o modo gramatical da relatividade, convém a uma ciência da diversidade. Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, [os artefatos ou as máquinas], por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições aparentemente mais desligadas daqueles que as criaram, são os homens que a história quer capturar." Ofício do Historiador, p.54.
Quais dificuldades encontrou na pesquisa em São Caetano do Sul?

Como já lhe  disse  anteriormente, não desenvolvo pesquisas específicas sobre São Caetano do Sul. Mas, acredito que as dificuldades devam ser semelhantes: fontes nem sempre acessíveis, organizadas e conservadas com vistas a preservar a possibilidade de se realizar pesquisas nos diversos âmbitos do conhecimento. E isso não quer dizer que as instituições de memória não as conservam. Antes, observamos que geralmente as políticas culturais de conservação e difusão de documentos é frágil e pouco voltada para a manutenção da memória, o que dificulta sobremaneira a vida dos pesquisadores. E, por conseguinte, o entendimento das realidades locais e regional.

Priscila Gorzoni: Para quem deseja se iniciar nesta pesquisa o que indicaria?

Suzana Kleeb: Indicaria que é preciso acima de tudo gostar de difusão de conhecimentos. Pode parecer básico e óbvio, mas apenas o prazer em realizar pesquisas é que auxilia a que o pesquisador não desista ao primeiro desafio que encontra. Depois é preciso persistência e muito estudo; muita leitura não apenas sobre o seu assunto, mas sobre temas correlatos e aportes teóricos que embasam suas reflexões. Quando esses elementos são levados em consideração, pesquisas se tornam deliciosas e fascinantes.

Priscila Gorzoni: Suas conclusões finais.

Suzana Kleeb: Para finalizar gostaria de dizer que apesar de vivermos em uma sociedade que valoriza pouco a pesquisa e o conhecimento, sabemos que estes são básicos e fundamentais. É preciso que a sociedade e as políticas públicas estejam mais antenadas à importância de se conhecer, analisar limitações e possibilidades de avanços da sociedade, além de fomentar a inovação que pesquisas possibilitam e  garantir acesso ao conhecimento produzido.


(ESSE TEXTO NÃO PODE SER COPIADO SEM OS DEVIDOS CRÉDITOS DE AUTORIA, CONFORME A LEGISLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS LEI 9610, de 19 de fevereiro de 1998, "Dos Direitos Morais do Autor", Artigo 24, Inciso II. POR FAVOR, NÃO COPIEM, COMPARTILHEM O LINK. OBRIGADA)  




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