sábado, 18 de março de 2017

Personagens de São Caetano do Sul
Daniela Provenzano Pasqual, criadora e professora da Cia. da Dança Bruma Magias de São Caetano do Sul
Por: Priscila Gorzoni 








Quem dança, seus males espanta

Desde que o mundo é mundo, homens e mulheres dançam. Eles dançam para ritualizar, pedir aos deuses graças e proteções, por uma boa colheita, de alegria, tristeza, distração ou saúde. Por um motivo ou outro a dança está presente no cotidiano humano desde a origem do mundo e é nossa companheira inseparável. Além de alegrar, socializar, pode contribuir para uma boa saúde. Algumas pessoas que a praticam são as testemunhas vivas disso e conseguem atestar esses benefícios rapidamente.

            Esse é o caso de Maria Nilza Rosa Nunes, 73 anos, ela está na Cia. de Dança Bruma Magias de São Caetano do Sul há mais de 10 anos. Mora há 60 anos na cidade e sempre teve sua vida repleta de atividades artísticas.  Nilza faz parte de uma família de artistas e sempre teve vontade de praticar dança. Por isso, resolveu arriscar. No início sentiu certa dificuldade em relação ao espaço, a pouca frequência das aulas e a falta de rotina do curso. Mas, aos poucos, as aulas engrenaram e ela logo percebeu os avanços com algumas colegas, entre elas uma senhora que tinha alguns problemas físicos.



 “Quando ela iniciou nos olhava, não falava, sentia certo receio, mas aos poucos foi se desenvolvendo de tal forma que nos surpreendeu. Apesar de não falar desenvolvia com rapidez as coreografias indicadas. Foi triste quando a família não a trouxe mais”, lembra.

Maria Nilza adora as aulas de dança, e não sente dificuldades em desenvolver as coreografias, o que consegue em pouco tempo. Assim como ela, Vânia Gesse, que mora na cidade desde 1982, faz parte do grupo há 10 anos, sempre gostou de todos os cursos ligados à arte, educação, cultura e destaca a dança circular como a mais especial. Para ela, praticar essa dança é muito mais do que um bailado, é, sem dúvida, uma experiência de cidadania. Nela aprendeu o amor ao próximo e uma nova terapia, que faz bem  a tudo, desde o corpo até a alma!

Além de aprenderem novas culturas e danças, as participantes da Cia. criam vínculos com as amigas como aconteceu com Cleide Fernandes Picanço, que está há cinco anos no grupo. Ela ficou sabendo que uma das companheiras era vizinha por acaso. “Um dia a encontrei em frente ao portão de casa e ela disse que estava de mudança por se sentir muito sozinha. Disse que se soubesse que eu morava ali, não se mudaria”, relata Cleide. 



Assim como a vida de suas companheiras, a de Picanço, mudou radicalmente. Ela passou a se sentir melhor e feliz por ter colegas para trocar ideias. “Os ensaios são maravilhosos, passamos algumas horas juntas e não temos dificuldades para aprendermos a coreografia. Gosto de todas as apresentações que fazemos. A dança circular, me faz muito bem, além de ser ótima para a coordenação motora”, ressalta.

Mas todos esses encontros não seriam possíveis sem Daniela Provenzano Pasqual, que criou a Cia. da Dança Bruma Magias, em 2000, em razão dos convites para apresentações nos municípios vizinhos.



O grupo começou com um trabalho desenvolvido durante 13 anos nos Centros de Convivência da Terceira Idade de São Caetano do Sul. Para facilitar, Daniela tinha a Escola Bruma Magias, que começou a ser frequentada pelas alunas do curso.

“Inicialmente o foco era somente a terceira idade, com o passar do tempo, mais pessoas se interessaram. Hoje temos participantes com idades variadas dos 23 a 81 anos. Duas participantes: Carmelinda e Nilza possuem mais de 70 anos. Começamos com cinco alunas e agora temos 30. O foco da Cia é o aprendizado, a troca, a superação dos limites, as apresentações são o fruto do trabalho. Quando temos alguma apresentação o ensaio apesar de divertido é intenso” explica a professora.

A Cia. é muito requisitada nas apresentações pela região, algumas já até renderam premiações e cachês. “No ano passado fizemos várias apresentações: no almoço das Acácias do ABC, evento da Loja Maçônica Cavaleiros, Faculdade da Terceira Idade da FEFISA em Santo André, espetáculo Mulheres que fizeram história no clube Aramaçan, Feticom em Mongaguá no litoral paulista, Dia da Criança do Clube América, Clube São Caetano, Espaço Chico Mendes, Museu Histórico, entre outros. Tivemos até que recusar alguns convites porque as datas eram as mesmas”, conta Daniela. 



Durante as apresentações, a Cia. demonstra os vários tipos de danças que são trabalhadas nos ensaios. “Fazemos as Danças Circulares Sagradas, realizada pelos antigos gregos, celtas, cuja integração em roda nos ensina o aprendizado do encontro com o nosso sagrado, Danças Étnicas de diversas culturas africana, brasileira, havaiana, espanhola, indígena e hindu, Dança do Ventre, Dança Cigana, Dança Tribal, que é a fusão dos elementos da Dança do Ventre com ritmos diferenciados. Essa última é a mais difícil porque exige mais do corpo, por isso é feito um trabalho com a yoga para aumentar a flexibilidade, elasticidade e abertura”, exemplifica Pasqual.

Além de se divertirem, as participantes da Cia. sentem os vários benefícios físicos e mentais da dança. Entre eles estão: melhora respiratória, postural, de concentração, do metabolismo, superação de limites, melhora na autoestima, relaxamento, alegria de viver, integração, autotransformação e meditação ativa. 


           
Aliás, duas histórias marcaram a carreira de Daniela, uma delas aconteceu com uma de suas alunas que tinha a mãe portadora de Alzheimer. “Ela trouxe a mãe para participar do grupo. Segundo ela, todo dia de aula, a mãe não se esquecia, embora já não reconhecesse as pessoas. O outro caso foi o de uma das meninas da Terceira Idade que era excepcional. A família e os médicos nos relataram evidente melhora em seu estado após as aulas”, finaliza Provenzano.

Referências Bibliográficas:

Faro, Antônio José. Pequena história da dança, Editora Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1987.
           
*É jornalista, pesquisadora, historiadora. Formada em jornalismo pela Universidade Metodista, com formação em ciências sociais pela USP e Direito pelo Mackenzie, tem especialização em Fundamentos e Artes pelo Instituto de Artes da UNESP de São Paulo e Mestre em história pela PUC de São Paulo. É autora do livro Abre as portas para os Santos Reis da Editora Fundação Pró-Memória, Animais nas Batalhas pela editora Matrix e Os benzedores que benzem com as mãos da editora UCG. 





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