Daniela Provenzano Pasqual, criadora e professora da Cia. da Dança Bruma Magias de São Caetano do Sul
Por: Priscila Gorzoni
Quem dança, seus males espanta
Desde que o
mundo é mundo, homens e mulheres dançam. Eles dançam para ritualizar, pedir aos
deuses graças e proteções, por uma boa colheita, de alegria, tristeza,
distração ou saúde. Por
um motivo ou outro a dança está presente no cotidiano humano desde a origem do
mundo e é nossa companheira inseparável. Além de alegrar, socializar, pode contribuir
para uma boa saúde. Algumas pessoas que a praticam são as testemunhas vivas
disso e conseguem atestar esses benefícios rapidamente.
Esse é o caso de Maria Nilza Rosa
Nunes, 73 anos, ela está na Cia. de Dança Bruma Magias de São Caetano do Sul há
mais de 10 anos. Mora há 60 anos na cidade e sempre teve sua vida repleta de
atividades artísticas. Nilza faz parte
de uma família de artistas e sempre teve vontade de praticar dança. Por isso,
resolveu arriscar. No início sentiu certa dificuldade em relação ao espaço, a
pouca frequência das aulas e a falta de rotina do curso. Mas, aos poucos, as
aulas engrenaram e ela logo percebeu os avanços com algumas colegas, entre elas
uma senhora que tinha alguns problemas físicos.
“Quando
ela iniciou nos olhava, não falava, sentia certo receio, mas aos poucos foi se
desenvolvendo de tal forma que nos surpreendeu. Apesar de não falar desenvolvia
com rapidez as coreografias indicadas. Foi triste quando a família não a trouxe
mais”, lembra.
Maria Nilza adora as aulas de dança, e
não sente dificuldades em desenvolver as coreografias, o que consegue em pouco
tempo. Assim como ela, Vânia Gesse, que mora na cidade desde 1982, faz parte do
grupo há 10 anos, sempre gostou de todos os cursos ligados à arte, educação,
cultura e destaca a dança circular como a mais especial. Para ela, praticar
essa dança é muito mais do que um bailado, é, sem dúvida, uma experiência de
cidadania. Nela aprendeu o amor ao próximo e uma nova terapia, que faz bem a tudo, desde o corpo até a alma!
Além de aprenderem novas culturas e
danças, as participantes da Cia. criam vínculos com as amigas como aconteceu
com Cleide Fernandes Picanço, que está há cinco anos no grupo. Ela ficou
sabendo que uma das companheiras era vizinha por acaso. “Um dia a encontrei em frente ao portão de casa e ela disse que estava
de mudança por se sentir muito sozinha. Disse que se soubesse que eu morava
ali, não se mudaria”, relata Cleide.
Assim como a vida de suas companheiras, a
de Picanço, mudou radicalmente. Ela passou a se sentir melhor e feliz por ter
colegas para trocar ideias. “Os ensaios
são maravilhosos, passamos algumas horas juntas e não temos dificuldades para
aprendermos a coreografia. Gosto de todas as apresentações que fazemos. A dança
circular, me faz muito bem, além de ser ótima para a coordenação motora”,
ressalta.
Mas todos esses encontros não seriam
possíveis sem Daniela Provenzano Pasqual, que criou a Cia. da Dança Bruma
Magias, em 2000, em razão dos convites para apresentações nos municípios
vizinhos.
O grupo começou com um trabalho
desenvolvido durante 13 anos nos Centros de Convivência da Terceira Idade de
São Caetano do Sul. Para facilitar, Daniela tinha a Escola Bruma Magias, que
começou a ser frequentada pelas alunas do curso.
“Inicialmente
o foco era somente a terceira idade, com o passar do tempo, mais pessoas se
interessaram. Hoje temos participantes com idades variadas dos 23 a 81 anos. Duas
participantes: Carmelinda e Nilza possuem mais de 70 anos. Começamos com cinco
alunas e agora temos 30. O foco da Cia é o aprendizado, a troca, a superação
dos limites, as apresentações são o fruto do trabalho. Quando temos alguma
apresentação o ensaio apesar de divertido é intenso” explica a
professora.
A Cia. é muito requisitada nas
apresentações pela região, algumas já até renderam premiações e cachês. “No ano passado fizemos várias
apresentações: no almoço das Acácias do ABC, evento da Loja Maçônica
Cavaleiros, Faculdade da Terceira Idade da FEFISA em Santo André, espetáculo
Mulheres que fizeram história no clube Aramaçan, Feticom em Mongaguá no litoral
paulista, Dia da Criança do Clube América, Clube São Caetano, Espaço Chico
Mendes, Museu Histórico, entre outros. Tivemos até que recusar alguns convites
porque as datas eram as mesmas”, conta Daniela.
Durante as apresentações, a Cia. demonstra
os vários tipos de danças que são trabalhadas nos ensaios. “Fazemos as Danças Circulares Sagradas, realizada pelos antigos gregos,
celtas, cuja integração em roda nos ensina o aprendizado do encontro com o nosso
sagrado, Danças Étnicas de diversas culturas africana, brasileira, havaiana,
espanhola, indígena e hindu, Dança do Ventre, Dança Cigana, Dança Tribal, que é
a fusão dos elementos da Dança do Ventre com ritmos diferenciados. Essa última
é a mais difícil porque exige mais do corpo, por isso é feito um trabalho com a
yoga para aumentar a flexibilidade, elasticidade e abertura”, exemplifica Pasqual.
Além de se divertirem, as participantes
da Cia. sentem os vários benefícios físicos e mentais da dança. Entre eles
estão: melhora respiratória, postural, de concentração, do metabolismo, superação
de limites, melhora na autoestima, relaxamento, alegria de viver, integração,
autotransformação e meditação ativa.
Aliás, duas histórias marcaram a
carreira de Daniela, uma delas aconteceu com uma de suas alunas que tinha a mãe
portadora de Alzheimer. “Ela trouxe a mãe
para participar do grupo. Segundo ela, todo dia de aula, a mãe não se esquecia,
embora já não reconhecesse as pessoas. O outro caso foi o de uma das meninas da
Terceira Idade que era excepcional. A família e os médicos nos relataram evidente
melhora em seu estado após as aulas”, finaliza Provenzano.
Referências
Bibliográficas:
Faro,
Antônio José. Pequena história da dança, Editora Jorge Zahar, Rio de Janeiro,
1987.
*É
jornalista, pesquisadora, historiadora. Formada em jornalismo pela Universidade
Metodista, com formação em ciências sociais pela USP e Direito pelo Mackenzie,
tem especialização em Fundamentos e Artes pelo Instituto de Artes da UNESP de
São Paulo e Mestre em história pela PUC de São Paulo. É autora do livro Abre as
portas para os Santos Reis da Editora Fundação Pró-Memória, Animais nas
Batalhas pela editora Matrix e Os benzedores que benzem com as mãos da editora
UCG.
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