Antônio Rosa Alves, 88 anos, fez a sua vida trabalhando como motorista da Lavanderia São Caetano.
Por: Priscila Gorzoni
O motorista da
lavanderia São Caetano
O mineiro Antônio Rosa Alves, 88 anos,
fez a sua vida trabalhando como motorista da Lavanderia São Caetano.
Ele nunca sonhou em ser motorista de
táxi ou de caminhão, mas desde que começou a trabalhar com 13 anos almejava ser
o motorista das lavanderias.
Antônio
nasceu em Andradas no Sul de Minas Gerais e veio para São Caetano do Sul com 10
anos em 1937.
Ele veio com a família para ficar mais
perto de uma das irmãs que já morava aqui. Rosa era o oitavo filho de nove
irmãos. Os seus pais Rosa Alves e Mariana Norberto de Souza moraram no terreno
da família De Nardi, no bairro Fundação. “Os
De Nardi eram muito bons. Eles moravam em uma parte do terreno e nós na outra.
A molecada se dava bem, ia jogar bola, pular corda, jogar bolinha de gude,
brincava de mocinho e ali passamos a infância,” conta.
A infância do ex motorista de lavanderia
foi sossegada, a cidade era tão tranquila que as casas ficavam de portas abertas,
não tinha assalto e as crianças andavam sozinhas pelas ruas. Por outro lado,
encontrar alimentos era bem complicado. A mãe da Antônio tinha que comprar ½
litro de leite, misturar com água para completar o litro e cada um beber um
pouquinho. “Hoje é tudo mais fácil, você
vai ao supermercado e compra uma caixa de um litro de leite,” conta.
Naquela época as pessoas iam para todos
os locais a pé e de bicicleta. Quando aconteciam as missas Rosa saia de casa às
5 horas e só chegava a Igreja Matriz meia hora depois. “Íamos a pé sozinhos do bairro Fundação até a igreja do centro da cidade.
Era tudo escuro, as lâmpadas que tinham nos postes das ruas eram fracas. Mas
tínhamos a liberdade e a segurança de ir aos lugares”, conta.
A vida de Rosa começou a mudar quando arrumou
um emprego em uma lavanderia da cidade, que se chamava inicialmente Lavanderia
Européia e depois se mudou para a Lavanderia São Caetano. Ela ficava no bairro
Fundação e Antônio começou a trabalhar lá com 13 anos entregando as roupas para
os clientes. “Nós estávamos jogando bola quando
chegou um rapaz chamado Mário Martins, me chamou e falou: Antônio, um homem
está precisando de alguém para entregar roupa, você não quer trabalhar para
ele? Eu falei opa, trabalho é sempre bom, vamos lá, eu quero trabalhar sim”.
Quando cheguei lá para pedir o emprego o
dono me viu, achou que eu não daria conta porque era um menino muito baixo. “Falou que eu ia barrar o terno no chão, e
pediu para eu pegar um terno para ele ver. Eu então levantei o braço e peguei o
terno. Ele disse então você vai ganhar 3 mil rés por mês”.
O trabalho de Rosa era cansativo, como
não tinha carro, ele andava longas distâncias com as roupas nas costas. Algumas
entregas demoravam mais de uma hora. Naquela época não existiam cabides, então
as roupas eram colocadas em um cabo de vassoura com pregos e Antônio o colocava
nas costas, ia devagar porque era tudo terra e mato.
Na lavanderia, Rosa aprendeu a passar as
roupas, a transportar as roupas e a dirigir o carro das entregas. Para isso
precisou aprender a dirigir aos 18 anos na auto escola Rela e depois tirar a
carta de motorista em Santo André. “Naquela
época era diferente, tranquilo dirigir, as ruas todas tinham duas mãos e como o
trânsito era pequeno não havia movimento. Hoje é diferente, mais complicado”.
Um dia, em 1943, o dono da lavanderia o
procurou e perguntou se ele aceitava comprá-la porque pretendia fechá-la. “Ele disse que se eu não comprasse a
lavanderia fecharia, e todos ficariam sem emprego. Então fomos lá falar com a
minha mãe, eram 10 horas e ela estranhou, pois almoçamos às 12 horas. Nós então
falamos que o Fuchs iria fechar a lavanderia se nós não a comprássemos e ela
então me perguntou quanto é, eu falei 12 mil res. Ela falou tenho sim o
dinheiro, pode comprar. Ela vendia verduras e foi juntando o dinheiro. O que
ficou faltando pagamos depois aos poucos.”
Quando comprou a Lavanderia, Rosa
assumiu a sua direção, mas continuou sendo o motorista. O trabalho na
lavanderia não era fácil. Durante uma época a energia costumava acabar sempre às
6 horas da manhã e só voltava às 12 horas. Então iniciavam os trabalhos às 12 horas
e iam até às 24 horas. Nos finais de semana trabalhavam direto, sem intervalos.
Quando todos iam dormir, Rosa pegava o carro e fazia as entregas. “Não tenho a conta de quantas entregas fiz.
Nós lavávamos 200 ternos por semana. Foi uma vida sacrificada, não era fácil, mas
gostoso, conseguimos tudo com esse serviço”.
Antônio gostava de ser o motorista,
inclusive porque podia dar voltas nos finais de semana com os amigos no carro
da lavanderia. “Depois de jogar bola íamos
dar uma voltinha e subia todo mundo no carro. Íamos até o Ipiranga e depois voltávamos
para casa. Isso dá muitas saudades”.
*É jornalista, pesquisadora, historiadora.
Formada em jornalismo pela Universidade Metodista, com formação em ciências
sociais pela USP e Direito pelo Mackenzie, tem especialização em Fundamentos e
Artes pelo Instituto de Artes da UNESP de São Paulo e Mestre em história pela
PUC de São Paulo. É autora de 11 livros, entre eles Abre as portas para os
Santos Reis da Editora Fundação Pró-Memória, Animais nas Batalhas pela editora
Matrix e Os benzedores que benzem com as mãos da editora UCG.
muito interessante, esta epoca apesar das dificuldades devia ser muito bom de se viver.
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