Alex Show: Um desenhista da vida
Por: Priscila Gorzoni
A primeira vez que vi o Alex, que se chama Alecxander Castilho Nobre, 38 anos, desenhista e imitador profissional foi em um dos jardins de São Caetano do Sul.
Ele estava sentado sozinho com um carrinho repleto de papéis, papelões e materiais que havia pego nas ruas para fazer as suas artes.
Depois cruzei com ele mais algumas vezes e a história de Alex me chamou a atenção.
Mais a frente Alex passou a frequentar o Ateliê do local onde trabalho e descobri seus belos desenhos e seus painéis maravilhosos, coloridos, vibrantes e parecidos com a tela de uma televisão como ele gosta de contar.
Alex para mim é o sinônimo da superação pela arte, da superação da exclusão, da superação dos bullyings por quais passou, da superação por viver em uma sociedade preconceituosa e perversa com os que se diferenciam.
Alex é a superação, por isso eu não poderia deixar de colocá-lo nesse blog.
É muito emocionante para mim colocar a história de Alex nesse blog, confesso que foi difícil fazer a entrevista. Confesso. Mas foi para mim uma lição de vida.
Alex é quem faz São Caetano do Sul ser São Caetano do Sul. Ele colore as ruas da nossa cidade com os seus painéis, desenhos, sua vibração. Ele retira a cor dos dias difíceis pelos quais passa. Ele é a superação.
Um dia ele me contou que haviam pego o painel dele, o mais bonito e jogado fora. Fiquei extremamente revoltada com isso, achei isso a mais profunda crueldade e perversidade. Mas ele superou, superou mais isso também.
Pedir para ele fazer outro. E ele disse que fará.
Os painéis de Alex colorem a cidade, são vibrantes, intensos, importantes.
Para quem não sabe Alex Show que tem fãs distribuídas pela cidade e que adoram beijar e autografar os seus papéis, nasceu em São Paulo e mora em São Caetano do Sul.
Ele ganha a vida fazendo caricaturas e imitando as personalidades famosas nas praças da cidade. A vida colocou a arte no destino de Alex quando ele era um menino.
Alex começou a desenhar com 3 anos de idade vendo os desenhos na televisão e os programas da TV Cultura. Sua mãe achava ruim porque os desenhos passavam pela manhã e ele não queria ir para a escola sem antes assistir aos desenhos. Mas estudou até a quinta-série. Largou a escola por causa dos bullyings que sofreu. Ele me contou que sofreu muito nas escolas, fiquei muito revoltada com o que ele me relatou e pensei realmente a sociedade exclui, exclui. Por sorte Alex deu a volta por cima e tirou de tudo isso força para fazer a sua arte.
A vida de Alex não foi nada e nem tem sido fácil, porque o diferente assusta, o diferente, o especial sofre preconceito.
Alex conta que faz os desenhos desde os 9 anos de idade e aprendeu a fazê-los sozinho. Não teve a oportunidade de fazer cursos e por isso assistia aos programas do Sílvio Santos e os desenhos Ra Tim Bum.
Ele conta com poucos materiais para desenhar, em geral recebe doações e prefere fazer as caricaturas com canetas pretas, quanto mais escura melhor. "Mas eu gostava de usar aquelas canetas que tem brilho, que dá sonho, porque as minhas fãs gostam. Eu tenho muitas fãs, em São Paulo, no Heliópolis, na Vila Califórnia e no bairro Fundação", conta.
O cotidiano do Alex é simples assim que acorda vem para o centro de São Caetano do Sul fazer as caricaturas e as imitações. Quando escurece ele volta para a casa. Gosta de andar a cidade inteira e carrega com ele seus materiais de artes, tanto para os painéis como para os desenhos.
Não foi fácil aprender a desenhar sozinho, ele precisou fazer muitos desenhos até conseguir fazer os corpos dos seus personagens como perfeição. Ele contou com a ajuda dos programas de desenho que passaram na TV Cultura como o A Mão Livre. "Eu tiro muitas ideias das paisagens que vejo na rua, inclusive dessas pichações que se você perceber são desenhos", conta.
Os trabalhos mais bonitos de Alex são os gigantescos painéis que produz e que infelizmente algumas pessoas ignorantes já os jogaram fora.
Um dos painéis tinha mais de 2 metros e ele juntou muitas tampinhas de garrafas, colou uma por uma, foi combinando uma cor com a outra. Foi um trabalho de duas semanas, ele ficou de sol a sol juntando os papéis, tampinhas e depois os colou. Todas as pessoas o viam montando o painel e passaram a ajudá-lo. "As pessoas me davam as tampinhas, me ajudavam a subir na escada e a colar. O painel era uma homenagem a MTV, que eu sempre gostei e assisti. os clipes que passavam lá, os cenários me inspiravam. No fim jogaram fora o trabalho. Eu peço a Deus que não me amolem e me deixem fazer a minha arte em paz", narra.
Não foi a primeira vez que houve o desrespeito do poder público em relação aos trabalhos de Alex e ao cidadão Alex.
Agora Alex me contou que invadiram a casa dele sem mandado e a presença dos donos da casa e levaram tudo, todos os materiais que ele havia juntado para as suas artes. Eu fico muito decepcionada com o poder público que parece não respeitar os cidadãos, em especial quando são excluídos dessa sociedade desigual. Questiono o poder público e a sua seriedade.
Mas falei para o Alex continuar a sua trajetória, firme, forte e convicto de seu potencial artístico.
Apesar de tantos desrespeitos, discriminações, exclusões, Alex segue firme, alegre e com muita energia.
Alex conta que tem muitos sonhos e planos para o futuro, um deles é continuar fazendo a sua arte em paz nas ruas da cidade, ser descoberto, ter o seu talento reconhecido, ter paz, se casar e ter filhos.
Eu também desejo tudo isso e muito mais a ele. Ele merece tudo isso e muito, muito mais.
Alex merece, merece ser respeitado, ter a sua arte reconhecida, ser feliz, ficar em paz.
(ESSE TEXTO NÃO PODE SER COPIADO SEM OS DEVIDOS CRÉDITOS DE AUTORIA, CONFORME A LEGISLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS LEI 9610, de 19 de fevereiro de 1998, "Dos Direitos Morais do Autor", Artigo 24, Inciso II. POR FAVOR, NÃO COPIEM, COMPARTILHEM O LINK. OBRIGADA)
Fonte: O livro das curiosidades de São Caetano do Sul, Priscila Gorzoni
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