sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A morte do Baraldi
Por: Priscila Gorzoni*



Quem conheceu Ernesto Baraldi nunca imaginou que ele teria um triste fim. 

Na década de 40 seu assassinato ganhou as manchetes dos jornais da cidade e marcou uma época da história.

O assassinato aconteceu em sua própria casa e seu corpo ficou durante horas exposto no pátio de seu quintal, que era exatamente onde hoje fica a frente da Matriz, no Centro da cidade.

Quando piso o pátio todo trabalhado em frente a Igreja imagino o corpo do assassinado ali caído, sendo olhado por quem passava, esperando pelo descanso eterno. Fico pensando se o local não se tornou assombrado, assombrado pelos passos de Ernesto Baraldi. Dizem que a noite se ouvem passos no local e vultos estranhos. Verdade ou mentira, o fato é que os Baraldi marcaram um espaço importante na história de São Caetano do Sul.

Os Baraldis viviam em uma grande casa no centro de São Caetano. A casa ficava na Rua. Baraldi e pegava onde hoje é o terreno da Matriz. A casa ficava ao lado da fazenda da família e a praça Cardeal Arco Verde era o quintal. A propriedade abrangia as ruas Santa Catarina, Pará, Rio Grande do Sul, parte da Goiás, entre outras.

A família Baraldi chegou a São Caetano em 1878, na segunda leva de italianos. O patriarca da família era Luiz Baraldi, que teve vários filhos, entre eles Ernesto Baraldi.

Luiz Baraldi veio da Itália com a esposa Luiza Negrelli Baraldi, a sogra Catharina Negrelli e os filhos Primo segundo Baraldi e Ernesto Baraldi. Luiz faleceu no dia 28 de setembro de 1892.

Ernesto era um homem magro, sem estudo que não tirava o chapéu da cabeça para nada.  Ele é descrito como um homem bom, mas gostava de caçar, saia pelas matas matando veados. Ele costumava dizer que caçar um veado era o suficiente, o que não o redimia de seus pecados.

Por outro lado, Ernesto não gostava de mentiras, mas costumava ouvi-lás sem interromper o seu interlocutor. Nessas horas ele costumava esfregar as mãos e dizer: “A pior coisa é você desmentir um mentiroso. Para que isso? A gente não ganha nada em desmentir”.

Ele tinha um lado ecológico, não gostava que tirassem os palmitos da mata e nem de desperdício.

Casou-se como Santina Anna Corradi Baraldi, que era uma mulher muito econômica e brava. O casal teve cinco filhos: dois faleceram e os outros três eram Luiz Primo Baraldi Netto, Egydio Segundo Baraldi e Elza Baraldi. O casal criou duas filhas adotivas: Rosina e Rosa Massolini.   

Os Baraldis eram muito influentes na cidade e por terem doado terras ao município detinham certo poder. Poder esse que foi usado por Santina Anna, quando tentaram mudar o nome da rua que moravam de Baraldi para Mato Grosso. Santina não pensou duas vezes, enfrentou a prefeitura e conseguiu o que desejava. Mas não foi apenas desta vez que mostrou a personalidade forte que tinha, não gostava de caçadas e era econômica ao extremo. Era também muito religiosa por isso não colocou obstáculos a doação de suas terras para a construção da Matriz.

O assassinato de Ernesto aconteceu no dia 25 de dezembro de 1944, quando o filho Egydio ofereceu um prato de coxinhas para o pai.

Egydio então lançou a bandeja para os ares e matou a navalhadas o pai. Para não ser preso, o assassino fugiu para o mato, seguindo pela Estrada das Lágrimas, lá um garoto de bicicleta o reconheceu, chamou os policiais e Egydio foi preso.

Ele foi condenado a 32 anos de prisão, cumpriu 22 e faleceu um tempo depois. Egydio está sepultado em São Caetano.   

             No livro de tombo da matriz Sagrada Família, o padre Alexandre Grigolli escreveu: “A uma hora depois do meio dia morreu assassinado pelo próprio filho, o Sr. Ernesto Baraldi, o maior benfeitor da matriz. O fato horrendo deu-se no próprio pátio da matriz, ficando o corpo da infeliz vitima exposto à curiosidade do público por diversas horas. Deus receba na sua misericórdia o pai infeliz, e dê a graça do arrependimento ao filho mais infeliz”.       

               É provável que o assassinato não tenha sido uma surpresa para Ernesto. Um dia antes, ao visitar uma de suas filhas, ele teria digo que pressentia a sua morte, pelas mãos do próprio filho.


Fonte: O livro das curiosidades de São Caetano do Sul, Priscila Gorzoni


(ESSE TEXTO NÃO PODE SER COPIADO SEM OS DEVIDOS CRÉDITOS DE AUTORIA, CONFORME A LEGISLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS LEI 9610, de 19 de fevereiro de 1998, "Dos Direitos Morais do Autor", Artigo 24, Inciso II. POR FAVOR, NÃO COPIEM, COMPARTILHEM O LINK. OBRIGADA)

Referência:

“Crônicas da rua. Baraldi”, de Ademir Medici, Revista Raízes 3.

*É jornalista, pesquisadora, cientista social e mestre em historiadora. Formada em jornalismo pela Universidade Metodista, com formação em ciências sociais pela USP e Direito pelo Mackenzie, tem especialização em Fundamentos e Artes pelo Instituto de Artes da UNESP de São Paulo e Mestre em história pela PUC de São Paulo. É autora do livro Abre as portas para os Santos Reis da Editora Fundação Pró-Memória, Animais nas Batalhas pela editora Matrix e Os benzedores que benzem com as mãos da editora UCG.



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