A morte do Baraldi
Por: Priscila Gorzoni*
Quem
conheceu Ernesto Baraldi nunca imaginou que ele teria um triste fim.
Na década
de 40 seu assassinato ganhou as manchetes dos jornais da cidade e marcou uma
época da história.
O
assassinato aconteceu em sua própria casa e seu corpo ficou durante horas
exposto no pátio de seu quintal, que era exatamente onde hoje fica a frente da
Matriz, no Centro da cidade.
Quando
piso o pátio todo trabalhado em frente a Igreja imagino o corpo do assassinado
ali caído, sendo olhado por quem passava, esperando pelo descanso eterno. Fico
pensando se o local não se tornou assombrado, assombrado pelos passos de
Ernesto Baraldi. Dizem que a noite se ouvem passos no local e vultos estranhos.
Verdade ou mentira, o fato é que os Baraldi marcaram um espaço importante na
história de São Caetano do Sul.
Os
Baraldis viviam em uma grande casa no centro de São Caetano. A casa ficava na
Rua. Baraldi e pegava onde hoje é o terreno da Matriz. A casa ficava ao lado da
fazenda da família e a praça Cardeal Arco Verde era o quintal. A propriedade
abrangia as ruas Santa Catarina, Pará, Rio Grande do Sul, parte da Goiás, entre
outras.
A
família Baraldi chegou a São Caetano em 1878, na segunda leva de italianos. O
patriarca da família era Luiz Baraldi, que teve vários filhos, entre eles
Ernesto Baraldi.
Luiz
Baraldi veio da Itália com a esposa Luiza Negrelli Baraldi, a sogra Catharina
Negrelli e os filhos Primo segundo Baraldi e Ernesto Baraldi. Luiz faleceu no
dia 28 de setembro de 1892.
Ernesto
era um homem magro, sem estudo que não tirava o chapéu da cabeça para
nada. Ele é descrito como um homem bom,
mas gostava de caçar, saia pelas matas matando veados. Ele costumava dizer que
caçar um veado era o suficiente, o que não o redimia de seus pecados.
Por
outro lado, Ernesto não gostava de mentiras, mas costumava ouvi-lás sem
interromper o seu interlocutor. Nessas horas ele costumava esfregar as mãos e
dizer: “A pior coisa é você desmentir um mentiroso. Para que isso? A gente não
ganha nada em desmentir”.
Ele
tinha um lado ecológico, não gostava que tirassem os palmitos da mata e nem de
desperdício.
Casou-se
como Santina Anna Corradi Baraldi, que era uma mulher muito econômica e brava.
O casal teve cinco filhos: dois faleceram e os outros três eram Luiz Primo
Baraldi Netto, Egydio Segundo Baraldi e Elza Baraldi. O casal criou duas filhas
adotivas: Rosina e Rosa Massolini.
Os
Baraldis eram muito influentes na cidade e por terem doado terras ao município
detinham certo poder. Poder esse que foi usado por Santina Anna, quando
tentaram mudar o nome da rua que moravam de Baraldi para Mato Grosso. Santina
não pensou duas vezes, enfrentou a prefeitura e conseguiu o que desejava. Mas
não foi apenas desta vez que mostrou a personalidade forte que tinha, não
gostava de caçadas e era econômica ao extremo. Era também muito religiosa por
isso não colocou obstáculos a doação de suas terras para a construção da
Matriz.
O
assassinato de Ernesto aconteceu no dia 25 de dezembro de 1944, quando o filho
Egydio ofereceu um prato de coxinhas para o pai.
Egydio
então lançou a bandeja para os ares e matou a navalhadas o pai. Para não ser
preso, o assassino fugiu para o mato, seguindo pela Estrada das Lágrimas, lá um
garoto de bicicleta o reconheceu, chamou os policiais e Egydio foi preso.
Ele
foi condenado a 32 anos de prisão, cumpriu 22 e faleceu um tempo depois. Egydio
está sepultado em São Caetano.
No livro de tombo da matriz Sagrada Família, o
padre Alexandre Grigolli escreveu: “A uma hora depois do meio dia morreu
assassinado pelo próprio filho, o Sr. Ernesto Baraldi, o maior benfeitor da
matriz. O fato horrendo deu-se no próprio pátio da matriz, ficando o corpo da
infeliz vitima exposto à curiosidade do público por diversas horas. Deus receba
na sua misericórdia o pai infeliz, e dê a graça do arrependimento ao filho mais
infeliz”.
É provável que o assassinato não
tenha sido uma surpresa para Ernesto. Um dia antes, ao visitar uma de suas
filhas, ele teria digo que pressentia a sua morte, pelas mãos do próprio filho.
Fonte: O livro das curiosidades de São Caetano do Sul, Priscila Gorzoni
Fonte: O livro das curiosidades de São Caetano do Sul, Priscila Gorzoni
(ESSE TEXTO NÃO PODE SER COPIADO SEM OS DEVIDOS CRÉDITOS DE AUTORIA, CONFORME A LEGISLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS LEI 9610, de 19 de fevereiro de 1998, "Dos Direitos Morais do Autor", Artigo 24, Inciso II. POR FAVOR, NÃO COPIEM, COMPARTILHEM O LINK. OBRIGADA)
Referência:
“Crônicas
da rua. Baraldi”, de Ademir Medici, Revista Raízes 3.
*É jornalista,
pesquisadora, cientista social e mestre em historiadora. Formada em jornalismo
pela Universidade Metodista, com formação em ciências sociais pela USP e
Direito pelo Mackenzie, tem especialização em Fundamentos e Artes pelo
Instituto de Artes da UNESP de São Paulo e Mestre em história pela PUC de São
Paulo. É autora do livro Abre as portas para os Santos Reis da Editora Fundação
Pró-Memória, Animais nas Batalhas pela editora Matrix e Os benzedores que
benzem com as mãos da editora UCG.
Para ver mais posts sobre São Caetano do Sul: http://promemoriasaocaetano.blogspot.com.br/
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