Emília de Freitas, de 81 anos
Por: Priscila Gorzoni
A costureira de Roberto Carlos
Foto/Priscila Gorzoni
A aposentada Emília de
Freitas, de 81 anos tem orgulho de dizer que já costurou as roupas dos cantores
Roberto Carlos e Erasmo Carlos no inicio de suas carreiras. Ela trabalhou como
costureira a vida inteira e em uma de suas fases profissionais prestou serviço
para uma empresa que consertava as roupas dos famosos.
Mas essa é uma longa
história que conto nesse artigo.
Emília é filha de pai
português e mãe italiana, nasceu em Mogi das Cruzes onde passou toda a sua
infância e juventude. No local tirou o diploma de costureira em um colégio de
freiras. Sua rotina na infância se revezava entre as costuras para fora e as
brincadeiras na rua. “Brincávamos embaixo da lua, não tinha luz elétrica. Minha
mãe criava galinhas, porco, não faltava comida. Somos em 11 irmãs”.
Ela viveu até 16 anos
com os pais e se casou no dia 8 de abril de 1950. Emília conheceu o marido no
bairro onde morava e passou a namorá-lo em casa. “Naquela época o namoro era
totalmente diferente. O namorado vinha à nossa casa só aos sábados e domingos à
noite, porque meu pai ficava em casa vigiando. Os únicos passeios que eu fazia
era ir às missas aos domingos”.
A ex-costureira morou e
trabalhou em várias cidades, a primeira delas foi Santo André, para onde se mudou
depois de casada. “Senti falta da família, mas não tinha o que fazer eu ia à
casa da minha mãe e voltava chorando. Mas era feliz”.
Passou a morar na casa
da sogra porque o marido começou a trabalhar em uma fábrica da cidade. Nessa
época teve quatro filhos, um deles morreu. Para ajudar nas despesas da casa trabalhou
como costureira para uma oficina de costuras, lá se faziam apenas calças jeans.
“Cheguei a fazer muitas calças, nem tenho conta de quantas, só sei que uma vez
vieram muitas, mais de 60 calças de uma vez e eu fiz. Só ia embora quanto
terminasse o trabalho”.
Foi nessa oficina que
Emília costurou as calças de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, que começavam a
fazer sucesso no cenário musical. “Costurei a primeira calça com a marca do
Roberto Carlos. Foi fácil porque eu sei fazer o serviço. Vinham às costuras do
Erasmo Carlos e eu sempre fazia, mas nunca os vi. Eu só os via na televisão.
Sentia-me bem, porque as minhas costuras deram sorte.”
Os
bordados
Mais tarde a costureira
resolveu aprender a bordar e assim criar uma nova forma de ganhar dinheiro. Ela
aprendeu a bordar com uma alemã que tinha uma loja em Santo André. A dona da
loja dava aulas de costura porque tinha um contrato com as linhas correntes,
então quem comprava as linhas poderia fazer as aulas. “Depois que aprendi comecei
a vender os meus trabalhos na loja. Vendi muita toalhinha de mão bordada. Não
dá para saber quanto tempo demora para fazer cada trabalho porque depende do
grau de dificuldade. Tem trabalho que é mais demorado porque é difícil e outros
são mais fáceis e rápidos.”
Infelizmente a
aposentada parou de bordar há pouco tempo por causa da vista fraca, mas sente
muita falta do oficio. “Quanto bordava me sentia muito bem. De presente eu dava
os trabalhos que fazia, não precisava comprar, não gastava nada. Hoje eu não
tenho dinheiro, não posso comprar presentes, porque é tudo caro.”
A vida financeira de
Emília nunca foi fácil. Quando tinha os filhos pequenos o marido precisou fazer
muitas horas extras no trabalho para pagar os seus estudos. “Os meus três filhos
hoje são formados, mas se espremer o diploma sai sangue. Deu certo, os meus
três filhos são engenheiros e estão bem de vida.”
Depois de morar em
Santo André, Emília e a família se mudaram para São Bernardo do Campo e ela
parou de costurar e começou a bordar. O marido não queria morar em apartamento,
mas em casa. Aqui em São Caetano do Sul as casas eram caras, por isso compraram
lá. “O meu marido já estava aposentado, porque trabalhava de pintor e soldador
e o oficio era insalubre. Com 25 anos ele se aposentou.”
Atualmente a ex-costureira
mora em São Caetano do Sul há cinco anos no bairro Santa Maria e tem uma vida
muito tranquila. “Fico muito em casa, antes eu bordava, não assistia à
televisão, só ouvia o som. Sinto falta, tirava as ideias das revistas, a
professora ensinava, você via a professora fazendo, ia e fazia.”, finaliza.
*É jornalista, pesquisadora, historiadora.
Formada em jornalismo pela Universidade Metodista, com formação em ciências
sociais pela USP e Direito pelo Mackenzie, tem especialização em Fundamentos e
Artes pelo Instituto de Artes da UNESP de São Paulo e Mestre em história pela
PUC de São Paulo. É autora de 11 livros, entre eles Abre as portas para os
Santos Reis da Editora Fundação Pró-Memória, Animais nas Batalhas pela editora
Matrix e Os benzedores que benzem com as mãos da editora UCG.
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