sábado, 9 de abril de 2016

O suicídio
Por: Priscila Gorzoni



Você nunca sabe o que vai encontrar quando virar a esquina da sua casa.

E foi isso o que aconteceu comigo há 15 dias.

Eu já tinha voltando a minha aula de capoeira e ia para o trabalho à pé.

Quando me deparei na minha rua com um movimento grande dos carros de polícia e vários policiais amparando uma moça que chorava muito.

 Perguntei para uma das pessoas que estavam na rua o que havia acontecido.

E então ele me contou uma história inusitada e muito triste.

Um homem havia se suicidado dentro de um carro que estava estacionado ali perto. 

Fiquei em choque quando ouvi a história.

A moça trabalhava na minha rua e o rapaz inconformado com o fim do relacionamento se matou dentro do carro inalando o gás do próprio carro.

Eu já li um pouco sobre a temática do suicídio e  fiquei muito chocada que ninguém tenha tentando salvar esse rapaz. O suicida dá sinais de que não está bem e pode se matar, mas me parece que ninguém ouviu esse ser humano em desespero.

Ninguém se mata por alguém, mas por si mesmo, porque se perdeu de si, porque se perdeu dos valores da vida.

O problema é que nós, todos nós temos dentro uma curiosidade mórbida e eu fui tomada por essa curiosidade mórbida.

Fiquei curiosa para ver o que havia acontecido.

De qualquer forma eu estava abalada, fiquei profundamente penalizada por aquele rapaz que estava morto dentro de um carro há poucos metros de mim.

O carro dele estava na rua que era o meu caminho para o trabalho. Eu teria que passar por lá, estava atrasada e seria o caminho mais rápido.

Então passei, em frente ao carro dele milhares de curiosos que pelo semblante não pareciam penalizados pelo rapaz mas tomados de um prazer mórbido.

Eu cheguei perto do carro com muito receio, era como se eu tivesse medo de alguma coisa, que o rapaz acordasse de repente. Me senti culpada, porque quando alguém se mata todos nós seres humanos somos um pouco culpados. Todos nós falhamos de alguma forma, todos nós deixamos de ouvir alguém que poderíamos ter salvado, ajudado.

Me senti muito culpada e um mato de tristeza tomou conta de mim.

Era como se eu também tivesse morrido um pouco ali. Coisas difíceis de explicar, coisa de gente sensível.

Foi então que avistei o carro, senti uma energia pesada ali, muito pesada.

O carro estava ali parado, embaixo de uma árvore, um carro popular, vidro escuro que não deixava ver o seu interior. Nos vidros escuros algumas frases desconexas em letras brancas escritas. Consegui ler: E aqui. Me pareceu que ele queria avisar que estava ali dentro morto. Mas a letra denunciava todo o desespero daquela rapaz. Eu tentei pensar se ele disse algo a alguém, pediu alguma ajuda. Provavelmente sim.

O suicida pede ajuda em geral.

Ele deve ter dado algum sinal de que não estava bem.

E então eu vi o cano que ele amarrou junto do escapamento que ele cobriu. 

Ele estava lá dentro ainda, já morto. Talvez morto desde a noite anterior. 

E então eu passei pelo carro e segui em frente para o meu trabalho.

Seria chocante demais ver o rapaz morto, não conseguiria.

Mas um mato de tristeza me cobriu, e segui o meu caminho.

Depois, na volta o carro não estava mais lá e o único rastro de que alguém morreu lá foi um par de luvas de borracha no chão, perto de onde o carro estava.

Demorei alguns dias para absorver melhor tudo isso.

Mas o mato de tristeza de manteve.

 E todos os dias passo ao lado da árvore de onde o carro estava estacionado e onde alguém se perdeu de si mesmo.

E desejo que esse rapaz tenha encontrado a paz, onde quer que ele esteja.




(ESSE TEXTO NÃO PODE SER COPIADO SEM OS DEVIDOS CRÉDITOS DE AUTORIA, CONFORME A LEGISLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS LEI 9610, de 19 de fevereiro de 1998, "Dos Direitos Morais do Autor", Artigo 24, Inciso II. POR FAVOR, NÃO COPIEM, COMPARTILHEM O LINK. OBRIGADA)  








 












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