Por: Priscila Gorzoni*
Após mais de duas horas de
viagem, partindo de Santo André, passando por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande
da Serra, rolando sobre os trilhos do trem da EMTU, a paisagem de árvores e
mata fechada finalmente se abre para uma pequena vila, curiosa, parada no
tempo. Estamos no Taquaruçu, uma vila na zona rural de Mogi das Cruzes, limite
com Santo André e a quatro quilômetros de Paranapiacaba, a antiga Estação
ferroviária da SPR. Ao chegar, minha impressão é de que o lugarejo ficou
sedimentado em imagem fotográfica de
décadas passadas. Isso é compartilhado e comprovado por Ademir Médici,
jornalista do Diário do Grande ABC, especializado em memória urbana, e meu
companheiro nessa agradável viagem. Médici freqüenta o Taquaruçu desde 1981, e nunca o viu diferente,
fato que deixa a sua história ainda mais intrigante.
Não são ainda 10:00 horas da
manhã do dia 13 de dezembro e o silêncio costumeiro da Vila do Taquaruçú
(definida por Delfo Begliomini, um dos fundadores como: “taquara grande, taboca gigante, espécie de bambu”, que existia na
região em tempos antigos) (1) é interrompido pelo burburinho dos primeiros romeiros
visitantes que chegam para a festa. Eles vêm de todas as partes do ABCD e dão
ao cenário adormecido pelo tempo, a atmosfera movimentada de antigamente. Todos
os anos o dia 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, a protetora dos olhos, é
comemorado no Taquaruçú, com missa aberta à comunidade.
Essa já é a 59ª. Festa de Santa Luzia e repete-se
o mesmo ritual das anteriores: missa, procissão, rojões, com a participação dos
moradores de Santo André, Ribeirão Pires e povoados isolados da Serra do Mar.
Antigamente a festa era realizada nos finais de semana e contava com o auxilio e
a participação de toda a comunidade da região. Após a missa era servido o
almoço típico italiano. Uma senhora vinha especialmente de Ribeirão Pires para
preparar os andores da Santa. Da agitação produtiva daquela época, até os dias
atuais, a única coisa que se manteve foi a paz bucólica da pequena Vila,
intacta há mais de 75 anos, com sua Igreja, o coreto e algumas casas. Todas as
construções são de madeira e datam dos anos 1930, além da velha bomba de
gasolina que abastecia os carros do povoado, no tempo de abundante trabalho
local.
Eram esses veículos que
transportavam a maior riqueza da época: madeira de lei para indústria de móveis,
lenha, carvão e pedras. A Festa de Santa Luzia relembra, também, a história da
construção da pequena Igreja, inaugurada em 1945, erguida com a intenção de
pagar promessa feita para curar o problema de vista de Renato Begliomini, filho
de uma das famílias fundadoras do Taquaruçu.
(ESSE TEXTO NÃO PODE SER COPIADO SEM OS DEVIDOS CRÉDITOS DE AUTORIA, CONFORME A LEGISLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS LEI 9610, de 19 de fevereiro de 1998, "Dos Direitos Morais do Autor", Artigo 24, Inciso II. POR FAVOR, NÃO COPIEM, COMPARTILHEM O LINK. OBRIGADA)
Fonte: O livro das curiosidades de São Caetano do Sul, Priscila Gorzoni
*É jornalista,
pesquisadora, historiadora. Formada em jornalismo pela Universidade Metodista,
com formação em ciências sociais pela USP e Direito pelo Mackenzie, tem
especialização em Fundamentos e Artes pelo Instituto de Artes da UNESP de São
Paulo e Mestre em história pela PUC de São Paulo. É autora do livro Abre as
portas para os Santos Reis da Editora Fundação Pró-Memória, Animais nas
Batalhas pela editora Matrix e Os benzedores que benzem com as mãos da editora
UCG.
NOTAS:
(1)
Diário do Grande ABC, Grande Abc Memória, por Ademir
Médici, 1988.
Nenhum comentário:
Postar um comentário