sexta-feira, 6 de maio de 2016

Os mistérios da vila do Taquaruçú
Por: Priscila Gorzoni*



Daquele tempo só ficaram a igreja, o coreto, as casa de madeira e a antiga bomba de gasolina, sem movimento. O cenário bucólico e poético da silenciosa Taquaruçú volta a respirar em meados de dezembro de cada ano, quando Santa Luzia faz aniversário, e traz centenas e centenas de devotos. É nesse momento que o Taquaruçu revive suas melhores recordações, de um tempo que não volta mais, mas sussurra nos ouvidos de quem ficou...


                Após mais de duas horas de viagem, partindo de Santo André, passando por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, rolando sobre os trilhos do trem da EMTU, a paisagem de árvores e mata fechada finalmente se abre para uma pequena vila, curiosa, parada no tempo. Estamos no Taquaruçu, uma vila na zona rural de Mogi das Cruzes, limite com Santo André e a quatro quilômetros de Paranapiacaba, a antiga Estação ferroviária da SPR. Ao chegar, minha impressão é de que o lugarejo ficou sedimentado em imagem  fotográfica de décadas passadas. Isso é compartilhado e comprovado por Ademir Médici, jornalista do Diário do Grande ABC, especializado em memória urbana, e meu companheiro nessa agradável viagem. Médici freqüenta  o Taquaruçu desde 1981, e nunca o viu diferente, fato que deixa a sua história ainda mais intrigante.

Dia de festa

                Não são ainda 10:00 horas da manhã do dia 13 de dezembro e o silêncio costumeiro da Vila do Taquaruçú (definida por Delfo Begliomini, um dos fundadores como: “taquara grande, taboca gigante, espécie de bambu”, que existia na região em tempos antigos) (1) é interrompido pelo burburinho dos primeiros romeiros visitantes que chegam para a festa. Eles vêm de todas as partes do ABCD e dão ao cenário adormecido pelo tempo, a atmosfera movimentada de antigamente. Todos os anos o dia 13 de dezembro, dia de Santa Luzia, a protetora dos olhos, é comemorado no Taquaruçú, com missa aberta à comunidade.

                 Essa já é a 59ª. Festa de Santa Luzia e repete-se o mesmo ritual das anteriores: missa, procissão, rojões, com a participação dos moradores de Santo André, Ribeirão Pires e povoados isolados da Serra do Mar. Antigamente a festa era realizada nos finais de semana e contava com o auxilio e a participação de toda a comunidade da região. Após a missa era servido o almoço típico italiano. Uma senhora vinha especialmente de Ribeirão Pires para preparar os andores da Santa. Da agitação produtiva daquela época, até os dias atuais, a única coisa que se manteve foi a paz bucólica da pequena Vila, intacta há mais de 75 anos, com sua Igreja, o coreto e algumas casas. Todas as construções são de madeira e datam dos anos 1930, além da velha bomba de gasolina que abastecia os carros do povoado, no tempo de abundante trabalho local.

                Eram esses veículos que transportavam a maior riqueza da época: madeira de lei para indústria de móveis, lenha, carvão e pedras. A Festa de Santa Luzia relembra, também, a história da construção da pequena Igreja, inaugurada em 1945, erguida com a intenção de pagar promessa feita para curar o problema de vista de Renato Begliomini, filho de uma das famílias fundadoras do Taquaruçu.



(ESSE TEXTO NÃO PODE SER COPIADO SEM OS DEVIDOS CRÉDITOS DE AUTORIA, CONFORME A LEGISLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS LEI 9610, de 19 de fevereiro de 1998, "Dos Direitos Morais do Autor", Artigo 24, Inciso II. POR FAVOR, NÃO COPIEM, COMPARTILHEM O LINK. OBRIGADA)  


Fonte: O livro das curiosidades de São Caetano do Sul, Priscila Gorzoni

*É jornalista, pesquisadora, historiadora. Formada em jornalismo pela Universidade Metodista, com formação em ciências sociais pela USP e Direito pelo Mackenzie, tem especialização em Fundamentos e Artes pelo Instituto de Artes da UNESP de São Paulo e Mestre em história pela PUC de São Paulo. É autora do livro Abre as portas para os Santos Reis da Editora Fundação Pró-Memória, Animais nas Batalhas pela editora Matrix e Os benzedores que benzem com as mãos da editora UCG.


NOTAS:
(1)   Diário do Grande ABC, Grande Abc Memória, por Ademir Médici, 1988.




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