sexta-feira, 13 de maio de 2016

Crônicas assombradas
Uma pessoa, uma assombração ou a minha imaginação
Por: Priscila Gorzoni



A nossa mente pode inventar muitas coisas.

Mas tem horas que você tem certeza que viu algo.

Isso aconteceu comigo recentemente. E vou ser sincera foi a situação mais estranha que senti na vida. Estou até agora tentando compreender o que vi e se realmente vi.

Eu tive que fechar e abrir os olhos várias vezes porque o que vi não tinha explicação.

E não é comum eu ter imaginações.

Mas vou contar o que aconteceu.

Há dois anos escrevo um livro reportagem.

O livro já está praticamente finalizado e para ele tive que fazer muitas entrevistas, mais de 20.

O meu livro fala de enigmas.

O meu livro me exigiu um mergulho no tema, mergulho que iniciei há dois anos.

Para fazer o livro não faço apenas as entrevistas, fotos e filmagens mas fico nos ambientes durante um tempo. É um trabalho de campo, em antropologia chamamos isso de etnografia.

Esse meu trabalho me fez ver os mistérios e enigmas de uma forma diferente da que eu via antes. Desconstrui o tema, passei a ter menos medo e a ficar menos impressionada.

Mas ainda me assusto com algumas coisas, entre elas o acontecimento que relato agora nesse texto.

Era mais um dia comum de entrevistas. Marquei várias entrevistas para o mesmo dia, pois escrever um livro exige rapidez nas entrevistas e um volume grande de histórias e narrativas.

Eu então tinha marcado de ir no lugar em que estavam os entrevistados como sempre faço.

Naquele dia, uma tarde normal, fria, mas ainda dia claro eu já estava na terceira entrevista.

Escolheram uma sala sem barulho para eu gravar a entrevista e não prejudicar o som. O entrevistado então sentou-se ao meu lado e de onde eu estava era possível ver o corredor e uma das salas.

Já era a terceira vez que eu entrevistava as pessoas naquele local então já estava acostumada. Nas duas vezes em que estive lá tudo correu tranquilamente e ouvi algumas histórias que me deixaram pensativa. Algumas histórias misteriosas, mas como sou razoavelmente cética fiquei em dúvida. Depois de um tempo fazendo entrevistas do assunto você passa a ouvir essas histórias com uma certa naturalidade e o papel do jornalista, do antropólogo não é acreditar ou duvidar, mas acolher a história e registrá-la. Embora eu seja cética se me perguntarem se acredito ou não nas histórias que eu ouço, eu diria que acredito sim. Porque as narrativas são muito lúcidas e reais em detalhes. E como diria aquele velho provérbio popular há mais coisas no céu e na terra que a nossa vã filosofia não dá conta de explicar.  

Mas não posso pensar muito no meu medo nessas horas. O medo tem que ser um combustível para mim.

Peguei o gravador e comecei a entrevista.

Já havia passado uma hora de entrevista e a conversa transcorria tranquilamente.

No local estavam só eu e o entrevistado. Os outros funcionários todos haviam ido embora, não havia ninguém no local.

Foi então que do outro lado, na entrada de uma das salas vi uma pessoa, parecia uma mulher vestindo uniforme, olhando para mim e entrando na sala. 

Eu vi.

Inicialmente achei que era uma funcionária, mas não havia mais ninguém no prédio.

E depois olhando com mais tranquilidade a sala, ela estava vazia e fechada. 

O mais estranho é que eu não conseguia definir ao certo se era uma mulher ou homem, mas me lembro de que tinha um cabelo escuro, meio enrolado, usava um uniforme, tinha estatura média e me olhou um pouco de longe. A pessoa parou na porta da sala e sumiu lá dentro.

Na hora eu não me assustei porque imaginei que fosse algum funcionário. Fora isso eu estava entrevistando, envolvida na narração do entrevistado que nem prestei realmente atenção ao que acontecia.

Só fui ligar as coisas depois, quando a entrevista tinha terminado e vi que a sala estava vazia e fechada.

E agora penso o que seria aquilo que vi.

Não sei, mas era real, eu havia visto.

Depois que a entrevista acabou fiquei esperando o próximo entrevistado que chegaria um pouco mais tarde.

Não demorou muito e ele chegou.

Fomos os dois para a mesma sala fazer a entrevista.

Antes de entrarmos na sala a porta se fechou com toda a força e agressividade possível.

Me assustei.

O entrevistado falou que não era para eu ter medo porque era comum as portas se fecharem assim, sozinhas ali.

Pensei, seja o que for tenho que continuar as entrevistas.

Fiz a entrevista tranquilamente, não vi mais nada no corredor, seja o que for havia ido embora. Ainda bem.

Terminei o trabalho, pedi proteção e voltei para casa.

Antes de descer as escadas da saída, olhei para trás, para o corredor, a sala. O vazio e o silêncio agora tomavam conta delas.

 Lá fora a vida continuava.


Quando sai do prédio era como se tivesse entrando em um outro mundo, o mundo real.

Mas nunca vou saber ao certo se o que vi era uma imaginação minha, ilusão, realidade ou fantasia.

Mas que vi, vi mesmo.


(ESSE TEXTO NÃO PODE SER COPIADO SEM OS DEVIDOS CRÉDITOS DE AUTORIA, CONFORME A LEGISLAÇÃO DE DIREITOS AUTORAIS LEI 9610, de 19 de fevereiro de 1998, "Dos Direitos Morais do Autor", Artigo 24, Inciso II. POR FAVOR, NÃO COPIEM, COMPARTILHEM O LINK. OBRIGADA)  


Fonte: O livro das curiosidades de São Caetano do Sul, Priscila Gorzoni









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